sábado, 29 de novembro de 2008

A origem do Desenho

Plínio o Velho(23-79 d.C.) legou-nos uma versão poética da origem do desenho (Naturalis Historiae, Liber XXXV), situando-a na Antiga Grécia. Segundo o ilustre romano, foi uma jovem mulher de Corinto, chamada Dibutada, a autora do primeiro desenho, gerado pelo desejo de reter a imagem do seu amado Polemon, preste a embarcar numa nau de retorno incerto.
A pintura de Joseph Suvée (Bélgica, 1747-1807) reproduz o momento: Dibutada reparou na sombra de Polemon e, socorrendo-se de um pedaço de carvão, contornou-a, preservando uma evocação do seu amado.
Joseph Suveé, Dibutada, ou a Origem do Desenho, 1791
Groeningemuseum, Bruges

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

PreâmbuloComo aprendiz das coisas do Desenho, retenho estas duas histórias, que gosto de reproduzir a outros aprendizes que me couberam em sorte. Não são as únicas que evocam, no seu abraço pedagógico, as atitudes que qualquer aprendiz deverá evidenciar, ou adquirir, caso pretenda comunicar visualmente através do Desenho, mas são essenciais.

O Aprendiz de OurivesHá muito tempo atrás, num longínquo país do oriente, um jovem talentoso pretendeu seguir carreira de ourives. Querendo adquirir os conhecimentos necessários nesse exigente mister, o rapaz foi conduzido por seu pai à oficina de um velho e experiente ourives, homem de grande fama e sabedoria. Após pedidos insistentes, o mestre acabou por ceder, aceitando-o como aprendiz. No dia seguinte, com a excitação das coisas que se iniciam e com mil ideias a brilhar nos olhos, o nosso jovem principiante apresentou-se perante o mestre que lhe disse: “o jade é, de todas as pedras, aquela que mais trabalhamos e à qual se deve a fama desta oficina. Para que a venhas a trabalhar é importante que a conheças. Portanto, toma esta pedra e não a largues, sente-lhe o peso, cheira-a, raspa-a, observa-a atentamente e volta cá para a próxima semana”. Surpreendido, o moço agarrou a pequena pedra verde na sua mão e, apesar de algo confundido, tomou o caminho para casa, determinado a seguir o conselho dado. Passada uma semana, o jovem aprendiz voltou à oficina. O mestre acercou-se dele, pediu-lhe a pedra de jade e colocou-lhe uma nova pedra na palma da mão. “Conhece-a”, recomendou. Decidido a não desistir, o rapaz agarrou a pedra; um seixo com um matiz de verde diferente, com outro peso e com outra configuração. A semana passou e com ela as diversas experiências possíveis: tinha-a friccionado noutras superfícies, lisas e rugosas, aqueceu-a e queimou-a, mirou-a contra a luz firme do sol e a luz dançante do fogo, bateu-lhe das mais diversas formas e fixou os sons que subiram em todos as quedas que lhe provocou, lavou-a com água e lavou-a com óleos, pesou-a, cheirou-a e até a mordeu. De regresso à oficina, entregou a pedra de jade e, uma vez mais, o mestre colocou-lhe uma nova pedra de jade na mão, sempre com a mesma recomendação, “conhece-a”. Muitas semanas passaram e com elas diversas pedras de jade. Sentindo já aproximar-se a sombra da desistência, o jovem aprendiz retomou o caminho para a oficina, decidido a questionar o mestre quanto a tão bizarra aprendizagem. Uma vez chegado, e antes que a coragem lhe empurrasse a língua para protestar, o mestre colocou-lhe uma pedra na mão e disse-lhe: “toma, esta é a última lição sobre o jade antes de aprenderes a utilizar as ferramentas para o trabalhar”. O aprendiz tomou a pedra na mão e, sem a ver, disse: “mas isto não é uma pedra de jade”.

O Concurso de PintoresNa longínqua Pérsia, um sultão famoso pela sua riqueza e gosto pelas artes, a pretexto da decoração de um sumptuoso salão com paredes folheadas a ouro, decidiu tomar a seu serviço os melhores pintores do mundo. Mas havia um problema: quais seriam os melhores? Se a meticulosa graciosidade das estampas chinesas o deleitava, a vivacidade cromática das pinturas bizantinas arrebatava-o. A escolha afigurava-se difícil. Decidiu então tirar partido da indecisão e organizou um concurso de pintores. Aos grupos de pintores foram atribuídas duas paredes opostas, ocultadas por um cortinado que dividia o faustoso salão a meio. O sultão disponibilizou aos concorrentes todos os meios necessários mas, enquanto os chineses quiseram pincéis com os pelos mais exóticos e sedosos, tintas de pigmentos raros e vernizes elaborados, os pintores bizantinos, surpreendentemente, só pediram óleos, panos e camurças.
Decorridos vários dias de intenso labor, chegou o momento da inauguração. O sultão dirigiu-se primeiro à ala decorada pelos chineses. Estupefacto e maravilhado, percorreu deleitado a imensa pintura na parede dourada cujo brilho se casava harmoniosamente com as tintas sedosas. O motivo não era para menos, uma magnífica paisagem tinha sido sabiamente orquestrada com todo o requinte. Dificilmente se poderia conceber visão mais graciosa. Duvidando das possibilidades de ver tamanha maravilha ultrapassada, ordenou que a cortina fosse corrida e o trabalho dos pintores bizantinos revelado. A surpresa foi geral. Atónitos, viram o reflexo da pintura dos chineses. Os bizantinos haviam polido cuidadosamente a parede, devolvendo a imagem oposta com redobrado brilho e leveza.
Ligação rápida: Artes - Desenho - Geometria Descritiva