segunda-feira, 16 de julho de 2012


 A segunda fase do exame de Desenho A decalcou a primeira, inclusive no terceiro grupo, propondo uma ilustração, desta feita de uma passagem do Memorial de Convento, de José Saramago. Também repetiu a fórmula do "estímulo visual", relativamente à qual se aplicam os comentários redigidos aquando da 1ª dose de exames. Repete-se a questão: por que razão se brindam os alunos com um "estímulo visual"? Será que a formação de Artes Visuais é assim tão anoréctica? Infelizmente sim, espoliada que tem sido de horas e de disciplinas essenciais...

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O Mostrengo da Avaliação


Classificadas e entregues as provas de exame de Desenho A, espera-se a sua afixação e o devido balanço estatístico.

Da prova:
Um modelo frágil e insípido de cartolina composto por três elementos, oferecendo múltiplas possibilidades de montagem. Com que propósito ou vantagem para os alunos? Desconhece-se. Para além do óbvio acréscimo de trabalho e do desgaste para os classificadores, nada mais se consegue retirar desta novidade.
A eliminação de uma das habituais quatro questões foi bem recebida; peca por tardia e denota uma dificuldade preocupante do GAVE em proceder aos necessários balanços (Vide relatório dos exames de 2010-2011: uma pobreza confrangedora em estatistiquez, aqui).
No Grupo II, era pedida a ilustração de uma parcela da “Mensagem”, de Fernando Pessoa, até aqui tudo bem mas, eis que o autor(a) da prova oferece, num arroubo de generosidade, “um estímulo visual para a criação de uma nova representação da figura d’O Mostrengo”: uma escultura de José de Guimarães! Não fosse o estrago que o estímulo produziu em muitas cabeças frágeis – porque depauperadas, entre outras, da necessária formação artística – o caso seria para rir. Já agora, por que razão se limitaram a este estímulo? E, principalmente, por que razão é necessário um “estímulo visual”?
A intendência continua a ter dificuldades em acertar com o papel, equilibrando textura com gramagem e adequando-o ao teor da prova e aos meios implicados.

Os descritores são omissos em diversos aspectos. Por exemplo: dadas as instruções, não especificam penalizações para aqueles que procederam a montagens erradas (num conjunto de 42 provas, ocorreram cerca de 25% de casos de yoga com o modelo). Outros são abstrusos como, por exemplo, o descritor c) da questão 1 do Grupo I, ou o descritor e) do Grupo II. Outros revelaram-se inúteis como é o caso do descritor a) (Grupo I, questão 1.) que, incidindo na qualidade do traço, foi inutilizado nas situações em que o aluno optou por preencher o espaço negativo com um valor tonal escuro, ocultando assim os contornos. Por fim, o descritor b) do Grupo II é uma pérola reverberante da pedagogia mais recente: “trabalha as formas a partir do estímulo visual apresentado”. Pretende-se que o aluno mimetize? Ou, à guisa de um academismo pós-moderno, faça uma coisa com laivos de contemporaneidade?  
Nota final:
Os últimos anos têm denunciado uma pobreza crescente das respostas implicando o exercício da criatividade. Não será estranho o facto de terem sido retiradas horas no 3º ciclo a E.V. (e que esta reforma corrige muito timidamente),  eliminadas disciplinas fundamentais no secundário (e.g. Teoria do Design) ou amputadas outras, como História das Artes. Com a redução de horários imposta pela ditadura do economês, não se auguram melhorias neste campo.
A apresentação de um portefólio é a modalidade que assegura maior equidade e que permite averiguar as reais capacidades dos alunos. Insistir no actual modelo de exames de Desenho é um erro que urge corrigir.


Ligação rápida: Artes - Desenho - Geometria Descritiva