Goya, O Sono da Razão Produz Monstros, desenho preparatório, 1797
O termo STEM1 teacher, muito em voga nos EUA e no
Reino Unido, é revelador de uma tendência que, independentemente da cor
política – nos Estados Unidos ela coincide com os democratas – tem encontrado
eco em diversas paragens, como Portugal.
O pretexto da crise – uma crise do sistema financeiro, recorde-se – veio
catapultar, com o atabalhoamento e a falta de ponderação habituais, uma visão
materialista do ensino, centrada na urgência em formar artífices, quadros
especializados e outros, orientados para responder a um previsível aumento de ofertas
de emprego nas áreas tecnológicas e científicas. A necessária e atempada
previsão da evolução do mercado laboral deve certamente ser tida em conta mas um facto mantém-se: qualquer formação que
retire o prazer do contexto de aprendizagem, que diminua ou condicione a
criatividade e que não promova a imaginação, condenará os alunos a lugares de
servidão, de realização acrítica e passiva, com os inevitáveis e indesejáveis reflexos económicos, entre outros.
Não é inocente a
apologia de um retorno a uma certa aurea
mediocritas que ecoa no escrevinhar e contar de travo salazarento,
subscritos pelo actual ministro Crato. Ela corresponde a uma dramática falta de
visão holística, ignorando a realidade caucionada pela história e que faz corresponder a riqueza das nações à pujança das democracias, à eficácia da justiça e ao investimento na criatividade.
E assim chegamos à oferta artística nas nossas escolas. Se a disciplina de Desenho figura como exemplo raro e feliz para a área das Artes Visuais no secundário, já a possibilidade de optar entre História da Cultura e das Artes (título pomposo que não mascara o ridículo das pretensões que a carga horária diminuta sublinha) e, por exemplo, Matemática, ou a diminuição da carga horária das disciplinas específicas, como o já referido Desenho, figuram entre algumas das várias decisões infelizes das secretárias com uns senhores atrás delas.
É bom lembrar que a destruição da oferta escolar nesta matéria não é exclusivo deste governo nem de agora, acentuou-se no início do século e não tem poupado outros níveis de ensino.
1 STEM é o acrónimo de Science,
Technology, Engineering e Mathematics.