quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sobre a Reforma


Desde os alvores deste século que se tem procedido a um desmembramento da formação artística ao nível do ensino secundário; a formação dos alunos foi desossada da muito útil disciplina de Teoria do Design ou M.T.E.P. (Materiais e Técnicas de Expressão Plástica) e História das Artes foi transformada numa espécie de compacto de superêxitos culturais, onde quase tudo pode sair em exame e nada se fica a conhecer.
Nos últimos anos temos assistido à demolição do que resta da formação artística,  graças à biodiversidade ministerial e fazendo eco da indiferença do pacóvio indígena. Vamos ser honestos, o “tuga” só reconhece o valor das artes como adorno social ou panaceia para a gastrite existencial; a arte é uma sarna à qual é suposto aderir convenientemente e sem compromisso. Os poderes instituidos mais não fazem que replicar esta realidade que, no tempo presente, parece desembocar na prioridade em saber escrevinhar e contar salazarenta. Quanto ao ensino artístico...

Não temos tido massa crítica capaz de impor um travão à amputação que se tem vindo a afirmar. As agremiações de professores de Educação Visual, de artistas, de designers, arquitectos (etc.), têm-se recolhido na sua insignificância, mesquinhez corporativa ou simples inoperância, validando a situação presente. Mais do que estas, a maior parte dos “s’tores” não está para se chatear e reza em surdina para não ser atingido por estes desmandos, até ser tarde demais.
Quanto aos alunos que almejam uma formação artística decente, resta-lhes a sorte, a pobre sorte de, aqui ou ali, encontrarem professores que remendem o imenso buraco para onde são despejados.
A revisão na calha não deixará de espelhar uma sociedade civil predominantemente apática, parola e mal formada, que considera a educação artística uma coisa engraçada, sem lhe reconhecer o seu efectivo valor na formação dos indivíduos e ignorando o papel que a criatividade e a imaginação tem no progresso material das nações.

2 comentários:

José Miguel Gervásio disse...

Gramei!

Daniel Caridade disse...

Aqui, no entanto, se perfaz a oportunidade, pois é neste deserto criativo e acrítico que as fendas se abrem, permitindo o discurso eloquente (e quiçá confuso para alguns, passível da natural desconfiança) e todo o potencial da construção, pois que melhor cenário para se fazerem maravilhas do que aquele que é nu e desprovido de função?
Compete-nos propor novos ou diferentes traçados e sugerir algumas directrizes para lançar o novo edifício da criação artística, onde se privilegiem as ideias do mesmo modo que se desenvolvem as práticas e que estas sejam trabalhadas nos seus contextos (entre os quais os referentes históricos, que se encontram à espreita para serem sorvidos pelas mentes mais sedentas que, desenganem-se, ainda as há, apenas se encontram indefinidas neste marasmo existencial em que todos nos temos deixado cair).
É para estes que nos devemos dirigir e fazer a aposta, porque a arte, quer se queira, quer não, faz falta, pois o espírito (sem religião e moral) definha pois é mortal, como todas as nossas melhores e mais sãs fragilidades.
É em busca deste desafio que procuro a meada de fio e regressar às melhores origens pelo meio deste labiríntico percurso cinzento e desinspirado que recaiu sobre as escolas e o ensino artístico, sobre os programas e o seu cumprimento, sobre aquilo que se determina por tarefa, e por aquilo que foi em tempos uma necessidade. Há quanto tempo não ouvem alguém dizer que fazia algo, apenas porque disso precisava?
O que dizem dos alunos que o manifestam actualmente? Que são loucos? Irresponsáveis? Deviam ‘pensar’ melhor? Que não têm futuro? Qual o lugar para a emoção, aquela que nos faz sentir prazer ao ver algo nascer e tomar forma, algo que é gerado pelo desejo e pela fome de fazer algo rico e diferente (por ingénuo que possa ser)?
Neste mundo da razão pragmática, qual o lugar para os saudosos desajustados que procuravam sempre servir aquela causa impossível, aquela que fazia com a história avançasse? Porque o inatingível impele-nos para a frente, sempre em busca, desejando alcançar algo que não se tem…
Onde, neste mundo, conformista e meio míope, se vêem aqueles que empurram para diante? Se a criatividade é cerceada onde senão na monótona movimentação sem tom da engrenagem nos poderemos enquadrar?

Ligação rápida: Artes - Desenho - Geometria Descritiva